MARCHA DO TINTINOLHO


Parabéns a todos ...àqueles que se levantaram cedo da cama e aos que apanharam com o calor das brasas lá em baixo , junto ao Mondego.

“ A vida é mais curta do que pensamos , apenas uma ilusão onde depositamos os créditos do nosso trabalho...”

Por esse motivo é que as pessoas devem fazer uma pausa, parar por uns instantes, despirem-se de horários, preocupações e compromissos e trocar tudo isto por uma conversa e um sorriso com seus colegas e amigos .
Foi precisamente o que aconteceu num domingo de Julho. Às oito horas da manhã havia um vento apressado e o céu estava coberto de nuvens que brincavam com o sol. Junto á porta da cadeia iam-se juntando, viram passar o Guerra com o atrelado das canoas , adivinhava-se um dia bem passado.
Atravessaram as Lameirinhas , desceram ao chafariz, seguiram pela calçada romana lajeada de pedras desgastadas pelo tempo, atravessaram um rego de água que se perdia pelas urtigas e os miltrastes. Quando deram conta estavam já a descer a encosta , além do eco da conversa animada e das gargalhadas ouvia-se o zumm...zumm.. das ventoinhas heólicas. O contraste da natureza pura e intocável que o homem teima em cicatrizar.
Ao longe avistava-se o castro do Tintinolho. Um sistema montanhoso isolado de difícil acesso, outrora com implantações típicas dos povoados da idade do ferro .
- Vamos lá, não vamos?
Uns foram outros ficaram. Aquele desvio valeu-lhes uma hora e meia. Foram por um caminho de tom amarelado rodeado de pequenos arbustos e de ervas com cheiro intenso que parecia conduzi-los ao mistério de outros tempos Viram um poço à beira do caminho revestido a pedra, mais á frente passaram por cima de um labirinto de minas desactivadas e fechadas que deixavam adivinhar quanto trabalho por ali passou. Batiam as dez badaladas na cidade que tinham deixado para trás quando alcançaram o sopé do morro. Sem um trajecto defenido romperam colina acima por entre giestas , silvas, pasto e bracejo. Uns pela direita outros pela esquerda galgaram pedras, pedregulhos e atingiram o topo, parecia a invasão do séc.Xl aquando a reconquista cristã, altura em que a linha de conquista do território avançou até ao mondego. Mas naquele domingo eram simples curiosos á procura do desconhecido porque quiseram estar ali para observar quanta beleza perdida, a imensidão do mundo e lá em baixo a aldeia nas margens do rio. Junto ao talefe ficaram de pé virados contra o vento, havia umas arvorezinhas de folhas duras , uns bichitos pretos de carapaça dura e nada mais. Tiraram fotografias,assim ninguém lhes rouba o testemunho da sua passagem.
Depois desceram uns atrás dos outros, voltaram ao mesmo caminho e foram ao encontro dos amigos que os viam aparecer e desaparecer nos recortes de cada curva. .Agora era só descer pela calçada romana.
Contaram mais tarde as aves e os insectos que por lá se falou de muita coisa: da erva do caril, do funcho(erva do aniz), das ervilhas de cheiro , da sopa de urtigas, da madre silva ,um perfume inconfundível. Falou-se do desconhecido, de coisas de outro mundo e ficámos a saber o mesmo. Conversas que não levam a lado nenhum mas com as quais aprendemos algo mais.
Quando entraram no parque havia uma algazarra de vozes , uma azáfama em volta do lume e das mesas. Uma mesa branca comprida reservada áquela malta, uma panela com sopa de grão a ferver, vinho á descrição, pão, presunto , chouriço , rissóis e pastéis para as entradas de um rico almoço. Vieram as travessas de frango assado, morcela , farinheira e salada de tomate .No fim uma deliciosa salada de fruta...Foram tomar um cafézinho e disseram entre si: ” Estava maravilhoso! “
O resto da tarde dividiu-se pelo jogo das cartas, do voleibol, do futebol na areia, das canoas deslizando nas águas da açude, de uma conversa aqui outra ali, etc ...
Quando o sol baixou despediram-se daquela tarde lá em baixo e ouviram alguém sussurrar baixinho: “ Voltem cá outra vez e tragam um amigo...”. Todos ouviram aquela voz e sabem que dias como aquele fazem a diferença nas suas vidas e no seu trabalho.
Àqueles a quem contei esta história tiveram pena de ter trocado aquele domingo por umas horas de sono ou por uns finos na esplanada do café, agora já é tarde... da próxima eles também irão...


Frase do momento:
“ Um dia voltamos cá...”




Maria Matos

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