MARCHA DE VILA SOEIRO


“De marcha a um passeio inesquecível”

-VILA SOEIRO-CABEÇO DO MEIO-QUINTA DO FOJO-CENTRAL HIDROELECTRICA DO PATEIRO-VILA SOEIRO 02-06-07 (14,2 Km)


Era uma manhã de Junho...Fresca calma e tão silenciosa quanto a montanha que os esperava.
Pararam numa aldeia perdida no tempo no sopé da tal montanha, olharam o cume,uma casa velha lá longe,as árvores e sentiram que estavam prestes a começar a aventura desconhecida.
Era um caminho rodeado de arbustos e plantas verdes tão variadas quanto o pensamento daqueles que caminhavam. Aquele caminho fresco e sombrio terminou e entraram num carreiro devidamente marcado que os levou ao cabo do mundo.
Subiram devagar, pararam e olharam a profundeza que se tornava cada vez mais evidente. Chamaram as plantas pelo nome, sentiram o cheiro inconfundível da bela –luz, falaram do travisco, da pimpinela, do Chá roberto, do serrão- pastor, da erva moleirinha, do cardo de flor roxeada, das urzes, da maia das giestas que deita carraças, das espiguinhas que se ripam da planta e se deitam no corpo de alguém...
Paravam, olhavam o rio, as casas lá em baixo, ouviram o cuco que cantou incansavelmente.
E na casa velha e abandonada! Havia os púcaros, os bancos de madeira, um cântaro de metal cheio de pó, o soalho partido , as divisões de madeira , uns armários de portas abertas. Tudo era tão belo quanto o tempo que os abandonou. E na fonte frente a essa casa! Corria um fio de àgua fresco vindo de uma mina que já se não vê. Ali havia mais púcaros de ferro já partidos, um crivo de um regador enterrado na lama. Pequenas coisas que o tempo abandonou. Eles refrescaram-se, beberam daquela água, lavaram o rosto, sentiram a frescura das plantas tocando o corpo quente. Ali estiveram escassos minutos , descansaram e admiraram a natureza, a verdadeira e pura beleza. Simplesmente incomparável!

Os outros tinham fugido havia já muito tempo, não viram, não sentiram, não puderam comentar aqueles minutos de vida que ali testemunharam a sua passagem. Onde estavam? Lá em cima , já se não viam .

Matou-se um lacrau fêmea e tiraram muitas muitas fotografias.
Quando chegaram lá ao cimo veio o abismo que descia pela montanha e se perdia até ao rio. Atravessaram um planalto cheio de bracejo,de arbustos pequenos e encontraram a primeira pastorinha. Estava escondida , dormindo. Depois mostrou os olhinhos e voltaram a deixá-la na pedrinha aquecida pelo sol, ficou no seu mundo.
Junto ao talefe apareceu uma vassoura de giesta feita por alguém e sentaram-se nos barrocos. Lá longe os outros amigos acenaram mas eles sentaram-se nos barrocos e comeram parte da merenda.
A Guarda ficava na mesma linha do horizonte , assim como tantas outras montanhas que se ligavam entre si até chegarem á Serra da Estrela.
Depois começou a descida, cruzou-se no caminho o bicho colérigo , pretinho de riscas amarelas que nos contou : “ vossos amigos são tão velozes quanto o vento ... passaram e não me viram! “
Então continuaram a descer, cantaram, seguraram-se nas fomengas das giestas, falaram daquelas casas abandonadas tão magnificas como se delas se soltasse o mistério que outrora por lá se viveu. O Mondego lá no fundo rodeado de frondosas árvores, a água transparente e os velozes a almoçar! Ouviu-se um sino que tocou uma serena melodia e ecoou contra a montanha.
Atravessaram um pontão tão rústico, tão velho, de pedra ,madeira e ferro. A madeira desgastada pelo tempo e pelo uso. Sentaram-se e voltaram a abrir as mochilas. Havia um burro, uma cabra e outros cabritos. Mas aquela cabra branca ficou a olhar aquele grupo. Pensou no que faziam eles ali mas não teve resposta. Comeu os caroços das maças e fez um sorriso quando os viu partir. Ela escolheu ficar no silêncio junto ao rio e eles partiram caminho acima.
Quanto mais avançavam maior a dimensão da montanha que ficava paralela do outro lado do rio. Acabou- se o caminho e entraram num carreiro que parecia não ter fim. Atrás de uma encosta desdobrava-se outra. Havia silvas, urtigas ,pica-ratos e muitas canas de bracejo que lhes massajava o rosto e o corpo. O sol tocou-lhes a pele mais que nunca e já não havia brisa de vento , já eram altas horas do dia. Eles perderam-se...!Disseram que não havia saída , esperaram e o “mestre” mostrou-lhes o fim do labirinto.
Ela não olhou para baixo, eram só precipícios do principio ao fim. Descidas a pique ,muitas pedras soltas que rolavam e á beira da vala de água uma profundeza de silvas, de rosas silvestres, de sabugueiro e muitas outras plantas!
No fundo , junto ao rio, as pedras tinham enxofre, os gogos do rio eram brancos e lavados pelas correntes fortes de Inverno. Havia um jardim botânico á esquerda repleto de lindos jarros brancos, uma figueira, uma nogueira, paredes que desenhavam na serra os cômaros outrora cultivados. As águas do rio acompanhavam todos os passos que eles deram . Notava-se ao longe o rasto das àguas turbulentas e do desgaste das rochas. Novamente as casas desmoronadas cheias de arbustos, o cheiro do gado, o foçar dos javalis e quase se avistava o fim. Eles olharam novamente a montanha voltaram a falar da casa abandonada , dos púcaros, da fonte e perguntaram: “ Como é possível, nós estivemos ali! “
Quando pensaram ser o início era o fim. Atravessaram uma fonte, elas ficaram sentadas á sombra e eles chegaram ao fim, onde tudo tinha começado .
As sombras já não estavam no mesmo sítio, os amigos haviam partido há muito.
Sentaram-se nas escadas de uma casa de pedra, descansaram falaram da aventura e também partiram daquela aldeia perdida . Foi fantástico!

Frase do momento:
“ Um dia voltamos cá...”
Maria Matos

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